Por: Léo Borba-jornalista
“Boa Sorte Ti amo.” O Bilhete estava em cima da mesa da cozinha, ao lado da caneca de louça. Escrito no início da noite de ontem, antes de sair para o trabalho; cuidadora de uma “vozinha” lá no centro da cidade. Lido com um sorriso no silêncio da madrugada.
“Sempre otimista”, pensa ele, enquanto pega do bolso a carteira. Guarda o bilhete, tira uma nota de cinquenta e deixa embaixo do relógio, em cima do balcão. Toma o café e come um pedaço de pão dormido. Lava a louça da noite, pega a mochila e vai para o portão. Percebeu que a noite se fora mais cedo. A Van também chegou antes.
No banco de trás, ouvia o rádio. “Mais de 27 milhões de brasileiros estão sem trabalho, aponta o IBGE...” Era como se o locutor dissesse diretamente a ele. A obra tinha acabado e a empreiteira ainda não sabia quando começar outra. O Seguro Desemprego já estava chegando ao final. Pedreiro dos bons; nenhum trabalho em vista. Fazia parte da estatística.
“O IBGE aponta, também, que quase cinco milhões de trabalhadores desistiram de procurar emprego...” – prosseguia o locutor. A Van chega ao centro da cidade. “Boa Sorte”. Lembra do bilhete, enquanto desembarca. Decide não desistir. No início do dia, lá estava ele no calçadão. Era um entre dezenas. Balançando bandeiras, entregando “santinhos”.
Começa a campanha eleitoral. Cento e quarenta e sete milhões de eleitores vão escolher Presidente da República, Senadores, deputados federais e estaduais; governador. E ele, em meio a tantos, balança a bandeira à cata dos votos. No vai e vem da calçada, a lembrança do bilhete de boa sorte; o vencimento do seguro-desemprego. A certeza de que é um bom pedreiro e que, no final do dia de hoje, vai levar um “dinheirinho” pra casa. No balançar da bandeira, a esperança de um serviço de carteira assinada.
Fotos: Léo Borba