Foto: Léo Borba
Por:Léo Borba, cronista e jornalista
No silêncio da tarde, o som de um saxofone enche o hall do palácio. Como um tatibitate de criança, reverbera pelas paredes com fotos emolduradas. Um sopro mais longo, outro mais curto tentam mostrar o que vai pela alma.
Assim é o Camilo. Junto com a síndrome que trás de berço, carrega pelos corredores as garrafas de café; entrega os jornais e os envelopes. No entra e sai dos gabinetes, recortes de conversas sobre projetos e leis, greves e eleições. Apenas ouve. Nada entende... Não é o único.
-Chiquetoza! Obrigada, meu lindo! – agradece a secretária.
-Lindo? Eu sou lindo!- exclama, com uma gargalhada.
Por onde passa, deixa no ar a simpatia que se mistura com os discursos do plenário, os debates das salas de comissões...
- Declaro encerrada a sessão...
O parlamento se aquieta.
No ar, apenas o som, por vezes rasgado, por vezes vibrato, do Sax tocado pela alma de criança, acomodada num corpo de adulto, sentado no hall do palácio. As notas esparsas, ainda que escondam a melodia, atenuam a sonhadora inquietude de todo o artista que existe em cada um de nós.
Camilo não é diferente. É apenas mais sensível.