Por Léo Borba-jornalista
Sentado na beira da sanga, segurava o caniço, de olho na boia de cortiça que flutuava no remanso da curva. Do galho da laranjeira que lhe servia de sombra, chega o canto do pássaro. Levanta a cabeça e vê a plumagem brilhante do canário, em meio ao verde das folhas. “O amarelo está alegre”, pensou, no exato momento em que sente o caniço pesar. A boia volta à tona e se movimenta de um lado a outro. Afunda de novo: ele levanta a o caniço. “uma tilápia graúda”, avalia. Com o balde de peixes numa das mãos, a vara na outra e um sorriso no rosto, volta pra casa, a poucos metros da sanga. Uma casa pequena. Pra ele e a esposa; um ou dois quartos a mais para a visita de alguns dos filhos. Na frente, uma varanda e um jardim. Nos fundos, uma pequena horta e o cercado para as galinhas. Quatro ou cinco, no máximo! Um poço de água fresca e o lampião para iluminar as noites de conversa ou de escrever lembranças, sonhos ou revisar planos... Sentado à escrivaninha, sentiu nos olhos o clarão que vinha do teto. -A luz voltou! – Comemorou o filho adolescente. -Graças a Deus, o temporal passou! – Exclamou a esposa, aliviada e com o controle remoto na mão. Ele desliga a luz de emergência e fecha o caderno. Dentro dele, a descrição de um cenário onde deseja viver a aposentadoria. “Só mais cinco anos”! Exclama baixinho, de olho no telejornal. “Governo tem pressa na aprovação da Reforma da Previdência...Veja de pois do intervalo” – anuncia a apresentadora. Ele respira fundo e espera a volta do noticiário. “Só mais cinco anos!!! Será que vai mudar agora?” – A pergunta o remói por dentro. Sente-se um peixe no anzol. Na escrivaninha, o caderno do sonho; fechado, dormindo. Os olhos na TV e, na boca, a ponta da caneta. Uma esferográfica “modelo presidencial”.
Ps: Foto Trip Advisor