A Alemanha enfrenta um momento político crítico e histórico com a dissolução de seu parlamento federal, o Bundestag.
Foto reprodução: Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier
Por Rô Wölfl/Alemanha
A decisão, rara na história do país, foi tomada em meio a uma grave crise política que paralisava as funções legislativas e gerava incertezas quanto à governabilidade da maior economia da Europa.
A dissolução foi decretada oficialmente hoje (27/12) pelo Presidente Federal, Frank-Walter Steinmeier, após intensos debates e falhas consecutivas na formação de uma coalizão governamental estável.
Nas eleições gerais recentes, nenhum partido obteve maioria clara, deixando o Bundestag em um impasse. As negociações entre os principais partidos – o União Democrata-Cristã (CDU/CSU), o Partido Social-Democrata (SPD), os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP) – fracassaram repetidamente, expondo profundas divisões ideológicas.
A situação piorou após a renúncia do Chanceler Federal, Olaf Scholz, que perdeu apoio tanto dentro de seu partido quanto no parlamento. Esse vazio de liderança ampliou as tensões, resultando em sucessivas moções de desconfiança contra membros do governo provisório e na incapacidade de aprovar medidas orçamentárias cruciais.
O Processo de Dissolução
Na Alemanha, a dissolução do parlamento é um recurso excepcional, previsto no artigo 63 da Lei Fundamental (Grundgesetz). Ela pode ocorrer caso o Bundestag não consiga eleger um chanceler dentro de três votações, ou por recomendação do Chanceler em exercício ao Presidente Federal, caso o governo perca funcionalidade.
O Presidente Federal, em um discurso transmitido à nação, justificou a decisão como um “último recurso” diante do “bloqueio persistente e da necessidade de devolver ao povo alemão a oportunidade de decidir o futuro de sua liderança política”.
Impactos e Reações Especialistas apontam que a dissolução do parlamento pode gerar instabilidade política e econômica no curto prazo, mas também abre caminho para novas eleições que podem desbloquear o cenário político.
As novas eleições devem ocorrer dentro de 60 dias, de acordo com a constituição alemã, e já mobilizam partidos políticos em busca de estratégias para conquistar o eleitorado.
A oposição criticou a dissolução como um fracasso da atual liderança, enquanto aliados do Presidente defenderam a medida como necessária para restaurar a funcionalidade do governo.
O povo alemão está dividido: enquanto alguns veem as novas eleições como uma chance de renovação, outros temem a ascensão de partidos extremistas, que têm ganhado força em meio à insatisfação popular.
Cenário Internacional
A crise na Alemanha gera apreensão em toda a União Europeia, que depende de sua estabilidade política e econômica para enfrentar desafios como mudanças climáticas, tensões geopolíticas e a guerra na Ucrânia.
Líderes europeus têm monitorado a situação de perto e expressaram confiança de que a Alemanha superará o impasse.
A dissolução do Bundestag marca um momento de grande incerteza, mas também de potencial transformação para a Alemanha.
Enquanto o país se prepara para novas eleições, o mundo aguarda para ver se a maior economia da Europa conseguirá superar suas divisões internas e reafirmar seu papel de liderança global.
A dissolução ocorre em meio a uma crise política que resultou no colapso da coalizão governista e na perda de um voto de confiança no parlamento.
As novas eleições legislativas foram marcadas para 23 de fevereiro de 2025, em conformidade com a legislação alemã, que exige que o pleito ocorra dentro de 60 dias após a dissolução do Bundestag.
A dissolução do Bundestag foi o desfecho de semanas de instabilidade política na Alemanha, provocada pela incapacidade do governo de coalizão liderado por Olaf Scholz em resolver questões-chave como orçamento, inflação e políticas climáticas.
A ruptura oficial ocorreu com a saída do Partido Democrático Liberal (FDP) da coalizão, criando um governo minoritário insustentável.
Impactos na Alemanha e na Europa
A instabilidade política alemã pode ter consequências econômicas e diplomáticas significativas. A Alemanha é um pilar da União Europeia e enfrenta desafios como a guerra na Ucrânia, a crise energética e a competição tecnológica com a China. O vácuo de poder pode atrasar decisões estratégicas no âmbito europeu.
Expectativas Eleitorais
Nas pesquisas eleitorais mais recentes na Alemanha, a aliança conservadora CDU/CSU lidera com cerca de 34% das intenções de voto.
Este bloco tradicionalmente conservador defende políticas fiscais mais rígidas, como o limite constitucional para o endividamento, além de medidas para reduzir impostos corporativos e custos de energia.
A CDU/CSU também propõe endurecer a política de migração, priorizando a entrada de trabalhadores qualificados e o controle rigoroso da imigração ilegal.
Em segundo lugar nas pesquisas eleitorais na Alemanha, aparece o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com cerca de 22% a 23% das intenções de voto, dependendo da pesquisa.
Este é um marco significativo, já que a AfD nunca alcançou essa posição antes em âmbito nacional.
O partido tem crescido principalmente em regiões do leste da Alemanha, com uma plataforma focada em restrições à imigração, crítica à União Europeia e oposição às políticas climáticas consideradas “radicais”.
Esse avanço reflete um descontentamento crescente com os partidos tradicionais, especialmente diante da crise econômica e política que o país enfrenta.
Já o SPD, atual partido do chanceler Olaf Scholz, aparece em terceiro lugar, com 16% das intenções de voto.
O SPD mantém uma abordagem mais moderada em questões fiscais e migratórias, propondo acelerar os processos de asilo e reforçar os direitos humanos nos controles de fronteiras.
A fragmentação política e a crise de popularidade do governo atual colocam o SPD em desvantagem para as eleições de fevereiro.
A eleição para o novo parlamento foi antecipada para o dia 23 de fevereiro de 2025, em vez de ocorrer no ciclo regular de setembro do mesmo ano.
O Bundestag - a câmara baixa do parlamento alemão- tem atualmente 736 assentos, um número elevado devido ao sistema eleitoral proporcional da Alemanha e a regras de compensação de votos.
Olaf Scholz permanece no cargo até a eleição do novo parlamento e a escolha do próximo Chanceler alemão.
Os deputados federais também continuam suas atividades no parlamento até a próxima eleição no mês de fevereiro do ano que vem.
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