Por: Léo Borba, jornalista
Em plena manhã de inverno, a gaivota pousou no telhado do Mercado Público. Em silêncio, ficou a observar o movimento mais abaixo. O vai e vem das pessoas no Largo da Alfândega. No meio delas, os pombos a cata de comida, driblando sapatos e sandálias em passos acelerados. Outras duas gaivotas juntaram-se aos pombos.
Mas, desajeitadas em meio a tanta gente, logo foram embora, acompanhadas pelo olhar que vinha lá de cima do mercado. O sol cintilava nas penas brancas, tornando-a uma personagem de Richard Bach, que vivia num mundo onde imperava a lei do bando: voar para comer. Uma lei que bania quem pensasse diferente. Claro que, por ser mundo, apareciam as “não iguais”.
As que buscavam a liberdade na excelência do vôo. A estas, o desterro nos penhascos distantes. Solitárias, aprendiam... rompiam limites. Buscavam a perfeição.
Assim voavam uma vida após outra.
Solitária, a gaivota permanecia em cima do mercado público.
No jeito de olhar, a impressão de que havia pousado num tempo que não era o dela. Olhou para o lado e viu a avenida repleta de
carros e os caminhões que encostavam na lateral do mercado para descarregar o peixe.
imagem: IHGSC
Em outros tempos, eram os barcos que chegavam. Vinham impelidos pelo vento e atracavam, já de velas arriadas, nas águas calmas da baía, a poucos metros do mercado. Traziam, além do peixe fresco, a farinha dos engenhos, a colheita da roça, as frutas da safra. Uma parte dos produtos ia para as bancas; a outra era vendida ali mesmo, na beira da água. Junto aos barcos, as gaivotas esperavam a limpeza dos peixes e se alimentar com os “descartes”.
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