Por: Léo Borba-Crônista.
O ônibus sacolejava pela rodovia sem asfalto. Num dos bancos, ela olhava pela janela molhada. Em meio à chuva forte, divisou a araucária à beira da estrada e puxou a campainha. Levantou-se e foi em direção à saída.
O ônibus seguiu em frente e, ela, pela estrada da Intendência. Embaixo da sombrinha, ia a bolsa no ombro, a pasta num braço e, no ventre, uma gestação de três meses. Em casa, ficaram marido e o filho. Cinco quilômetros depois, entra na pequena escola isolada. Quinze crianças a aguardavam...
Este é um trecho da reportagem que gravei, com as imagens do Chico Maia, para o então RBS Notícias.
Ao final da gravação, comentei com ela sobre a gravidez da nossa filha caçula, que chegaria no mês seguinte. Lá se vão trinta e três anos! Acredito que a personagem desta história já esteja aposentada; auxiliando os netos que, neste período pandêmico, estão às voltas com o aprendizado via internet. E deve imaginar o trabalho que os professores de hoje têm para exercer a profissão. Preparar as matérias e transformar o cômodo de casa em algo semelhante a uma sala de aula. Humanizar via satélite, a transmissão de conhecimentos.
Marli de Souza, a entrevistada daquela reportagem, não sabe, mas a nossa filha caçula é a Carolina, a professora que leciona em frente ao computador. Ambas, cada uma em seu tempo, influenciadoras. Na estrada de chão batido e na tela do computador.
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