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No Toca-discos




Por Léo Borba-Brasil


No Toca-discos. Abriu a porta e entrou. Livrou o rosto da máscara e despiu-se das roupas do dia. Saiu do banho e, aos poucos, abstraiu-se das horas de ofício, de distanciamentos e de temores. Na sala, abriu a tampa do toca-discos. Herança do avô.


Com cálice de vinho da mão, vê, pela janela do apartamento, os raios do ocaso irem embora; dar lugar as luzes dos postes alinhados com a ribalta das ruas. À leve acidez do Cabernet misturam-se lembranças de dias não tão distantes; mais livres. De se contagiar com a profissão, com o riso das conversas na rua; encontros com a família.


No prato do toca-discos, o vinil gira, acariciado pela agulha, e enche o ar com o concerto de Vivaldi. Pela janela, ouve a algaravia dos pardais. “Daqui a pouco é Primavera”, pensa ele. Olha pela janela à procura do Outono e do Inverno já quase finito. Tudo o que lembra são os dias mascarados, isolados; sobrevividos.


“Estou chegando”. Lê o aviso da esposa, larga o celular na mesa e vai à cozinha. Ao som da orquestra, prepara o jantar. Aniversário de casamento. Apenas os dois e a orquestra do vinil com as Quatro Estações.



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