No meio da manhã, chegou ao terminal. O movimento das primeiras horas já havia se dissipado e poucas pessoas estavam à espera dos ônibus. Na coluna de entrada, apertou o recipiente e esfregou o álcool em gel nas mãos. Num dos bancos vazios, viu um jornal. Foi até ele, tirou a mochila das costas e sentou. Uma onda alívio percorreu o corpo cansado da noite insone. A colega de trabalho ficou doente. Em troca de dois dias livres, aceitou dobrar a jornada. Desdobrou o jornal e, pela pandêmica manchete, mergulhou no universo das notícias. passavam por ela, de rostos cobertos, as pessoas em direção ao ponto de embarque. “É como se ontem não tivesse nascido ninguém”, conclui ela ao dobrar o jornal e deixa-lo no banco. “Onze partos esta noite”, contou mentalmente, enquanto embarcava no ônibus. Recostou-se no assento e esperou o ônibus dar a partida. “-Enfermeira!”- lembrou a chamada do médico no corredor da maternidade. “Espero que ela melhore”, pensou sobre a colega que estava doente; um número a mais para a estatística das manchetes, deixadas num banco vazio. Vencida pelo cansaço, adormeceu. Ao balanço do ônibus, se viu num campo de flores. Feneciam umas, desabrochavam outras. Bailavam ao sabor do vento que lhe soprava o rosto, pela janela do ônibus. O Vento de finados a anunciar novembro.
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